Esse mês aconteceu no Senac São Paulo a 5ª edição da Bienal de Tipos Latinos, uma mostra que reúne o melhor da produção de tipos da América latina. No último sábado, participei do ciclo de palestras que contou com a presença de Ronald Kapaz, sócio fundador de uma das agências de design mais importantes do Brasil..
Na minha opinião a mostra deixou a desejar no que se refere à disposição visual, o espaço era disponível para os cartazes era pequeno e a exposição bem “tímida”. Os tipos apresentados deveriam ter sido mais explorados, os cartazes poderiam aparecer acompanhados com diferentes formas de aplicação, por exemplo. O cartaz anunciava qual a função da fonte projetada, mas não demonstrava nenhuma aplicação a qual o cartaz se referia, somente o desenho da família tipográfica, o que me deixou com um gostinho de quero mais. Talvez pudessem ter usado de tablets para os visitantes interagirem com a mostra. Enfim, espero que os organizadores do evento tomem isso como uma crítica construtiva.
Como a bienal era de tipos latinos, as palestras giraram em torno de cases sobre brand e, obviamente tipografia (uma área do design que me atrai muito). Os palestrantes desmembraram os tipos, mostrando toda sutileza por trás de cada glipho, a diferença entre as hastes, tipos de serifa, descendentes, terminais, etc. São detalhes que, muitas vezes passam despercebidos ao olhar, mas que fazem toda diferença no seu todo.
Certa vez, um professor disse: "O bom design é percebido nos detalhes." - essa frase nunca me saiu da cabeça – e, no decorrer das palestras passei a refletir sobre o cenário atual do design e tipografia em que vivemos. O design brasileiro é bem fértil, no entanto, não recebe atenção e valorização merecida, e isso faz com que nossa profissão acabe prejudicada, pois não somos notados pela abasteza de detalhes, e sim pela quantidade de trabalhos realizados. O que resulta num design carente, pouco interessante.
O design e a tipografia, tidos como “invisíveis a olho nu”, são ao mesmo tempo evidentes e essenciais para esse universo contemporâneo em que vivemos. “O essencial é invisível aos olhos”, já dizia o célebre escritor Saint-Exupéry em O Pequeno Príncipe. Causa-me tremendo dissabor projetos de design desenvolvidos sem a mínima cautela, sem um estudo bem profundo de imagens, referências, tipografia, pesquisas de campo, sem um simples rabisco feito a mão.
Dispomos de tantas ferramentas e recursos, que chega a ser um ultraje desperdiçar. Como profissionais da área, é nosso dever e obrigação informar as pessoas, clientes ou não, o passo a passo de como se faz design. O mesmo professor da frase citada acima alertou: "Sempre que atendo um cliente, preciso dar uma aula pra ele".
Isso às vezes se torna maçante, a maioria das pessoas são leigas e poucas se interessam em saber o processo de soluções visuais, sejam elas em formato de website, logotipo, diagramação ou embalagem, o que se quer ver são resultados. Por isso, faço um apelo para que deixemos de nos preocupar com questões culturais e passemos a nos empenhar mais na mudança desse cenário, passemos a atender clientes com a mesma sutileza que tratamos um tipo, aquele nó do Illustrator que precisa ser mais curvo, aquela linha do CSS que precisa ser melhorada.
Tudo depende da forma como encaramos as coisas, se mudarmos nossa maneira de pensar e agir, com certeza alcançaremos melhores resultados.
Fernanda Alves de Oliveira, é strategic designer do estúdio de criação e design HOMA BESTO Creators Beings, trabalhou como web designer no departamento de Educação a Distância no SENAI-SP. Pós-graduada em Design Estratégico no Instituto Europeu de Design. Atua na área desde 2006 e já trabalhou com editorial, criação de logotipos e identidade visual. Adora exposições de arte, sair para fotografar, filmes alternativos, tecnologia e um bom café.